A forma como consumimos conteúdo mudou — e as emissoras precisam acompanhar as novas formas de consumo dos telespectadores. Hoje, o espectador navega entre o celular, a televisão e o computador ao longo do dia, buscando informações rápidas, momentos marcantes e experiências compartilháveis. Nesse novo cenário, o desafio das emissoras vai além de manter a audiência durante a transmissão: é levar esse conteúdo onde o público está — principalmente nas redes sociais.
Mas os grupos de comunicação têm uma vantagem competitiva. Produzem todos os dias uma enorme quantidade de conteúdo original, atual, bem apurado e com alto valor editorial. A diferença está em como esse material é reaproveitado. Um trecho de uma entrevista relevante, um comentário polêmico ou uma imagem marcante de um jogo pode se transformar em um vídeo de alto impacto, com potencial para se espalhar por redes sociais e gerar resultados concretos para a marca — inclusive financeiros.
A ascensão dos clipes curtos no ecossistema digital
TikTok, Instagram Reels e YouTube Shorts consolidaram um novo formato de comunicação audiovisual: vídeos curtos, rápidos, de consumo imediato. Para o usuário, é uma forma eficiente de se informar, rir ou se emocionar em poucos segundos. Para os veículos, é uma porta de entrada para públicos que talvez nunca assistiriam à transmissão original.

É nesse formato que boa parte da audiência jovem consome notícias, entretenimento e comentários. Quando uma emissora edita e publica rapidamente um clipe de 30 segundos com algo relevante que acabou de ir ao ar, ela amplia o alcance do conteúdo, fortalece sua marca e pode gerar conversas que continuam muito além da programação. E o melhor: isso retroalimenta o ecossistema da emissora, criando pontos de contato entre o conteúdo principal e novas audiências.
Agilidade e estratégia na clipagem
Transformar um programa completo em uma sequência de vídeos curtos necessita mais do que cortes automáticos. É um processo estratégico que começa com a curadoria: identificar o que tem força para circular de forma independente. Isso pode incluir desde a opinião de um comentarista sobre um fato quente até uma fala inusitada de um entrevistado ao vivo.
Aqui, a agilidade é decisiva. Quando o assunto ainda está sendo comentado nas redes, o vídeo precisa estar disponível. É por isso que cresce o uso de ferramentas de clipagem em tempo real, que permitem extrair, editar e publicar trechos enquanto o conteúdo ainda está “quente”. Em muitos casos, o vídeo certo, publicado com minutos de diferença, pode representar milhares de visualizações a mais — e até abrir espaço para viralização.
Como emissoras estão transformando clipes em receita
Os cortes de vídeos ao vivo já não são apenas uma forma de engajamento — ela é, cada vez mais, uma frente comercial relevante. Algumas emissoras já estruturam cotas específicas para vídeos curtos dentro de suas tabelas comerciais, com entregas e métricas claras para os anunciantes. Em muitos casos, o retorno por impressão ou por engajamento nessas ações pode superar o de formatos tradicionais, especialmente quando o conteúdo viraliza ou atinge nichos específicos.
Além disso, clipes com bom desempenho nas redes ajudam a atrair novos parceiros para projetos de branded content ou séries patrocinadas. Não é raro que marcas se interessem em associar sua imagem a trechos de entrevistas, comentários esportivos ou análises políticas que dialoguem com o público que desejam alcançar.
Outro ponto importante é a distribuição: algumas emissoras ou produtoras têm usado canais como o WhatsApp para enviar vídeos de destaque diretamente aos telespectadores. Essa é uma estratégia explorada de forma bem disruptiva, por exemplo, na Cazé TV. Por lá, os melhores momentos dos jogos vão para um canal de distribuição na plataforma da Meta.
É uma forma eficaz de manter o engajamento, reforçar a presença da marca e até gerar tráfego de volta para o conteúdo, aumentando as oportunidades de monetização indireta.

Aprendendo com os podcasts a reciclar conteúdo
Uma prática interessante, comum em podcasts e que começa a ganhar espaço também em emissoras, é a presença de um “editor de inventário”. Esse profissional é responsável por vasculhar o acervo de conteúdos anteriores e identificar trechos que podem ganhar novo contexto.
Um exemplo: se um jogador de futebol se envolve em uma polêmica, vale resgatar uma entrevista antiga em que ele já abordava o assunto, criando um novo clipe que conecta passado e presente. Essa prática dá longevidade ao conteúdo, aumenta a frequência de publicações e reforça a autoridade da emissora sobre os temas que cobre. E mais uma vez: este é um vídeo compartilhável, onde as pessoas querem abordar e discutir com seus amigos e familiares o conteúdo.
O conteúdo já está pronto, mas estão explorando ele por você
O conteúdo ao vivo continua sendo um dos ativos mais poderosos das emissoras. A diferença, hoje, está em como ele é distribuído e reaproveitado. Com estratégia, ferramentas adequadas e visão comercial, é possível transformar trechos da programação em produtos digitais de alto valor, capazes de gerar engajamento, atrair novas audiências e abrir novas fontes de receita.
Existem muitos canais de cortes reaproveitando conteúdo de grupos de comunicação consolidados. Geralmente com bom esforço empenhado as receitas oriundas desses cortes ultrapassam os 6 ou 7 dígitos de monetização — raramente exploradas pelo seu próprio criador.
Em vez de enxergar a transmissão como o fim do ciclo, o mercado mais avançado começa a vê-la como o ponto de partida para uma cadeia de valor digital.